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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Capitulo 12: Vincent Carter

Ele não se conformava com a rejeição. Como ela não poderia se lembrar da rainha que ela era? Era impossível, ou achava que seria impossível. Se ele lembrou, como ela não poderia lembrar? Afinal eles eram ligados, conectados. Será que as sucessivas mortes abalaram os laços a qual eles tiveram? Muitas perguntas pairavam na cabeça de um homem que só tinha uma coisa em mente: Vingança. Uma palavra forte, quiçá potente. Uma palavra que normalmente tinha algo a ver com destruição em massa e não poderia gostar mais do que isso. Afinal ele era o deus do submundo. Ele era Hades.

Como ele descobrira não importava muito a ele. Foi quando sua família morreu quando ele completara dezoito anos em um incêndio criminoso numa região próxima a Pusan, na Coréia do Sul. Seus pais já eram investigados pela Interpol e FBI por conta da ligação deles com a máfia oriental e o submundo do crime liderado por um homem desconhecido que atendia pela alcunha de Thanatos. O que importa é que como ele era jovem e mal sabia dos negócios da família, ele herdou toda a fortuna e começou a investir no mercado futuro. Derivativos entre outros ativos do mercado financeiro e fez fortuna apostando contra a própria moeda de seu país com a crise que se instalara durante todo o mundo. Triplicou o dinheiro de forma agressiva e se tornou um dos jovens novos nomes do novo mundo. Havia poucas pessoas que eram tão jovens e já conseguiam atingir a casa dos bilhões. Dessas, ele reconhecia duas pessoas: Nero Pagani, gênio da tecnologia naval e Charlotte Wickery, uma garota que herdaria a fortuna dos pais quando completasse a maioridade. E era nessa última que ele reconheceu de cara. Tinha a reconhecido como Perséfone, sua bela rainha do submundo. Do mundo dos mortos e dos desamparados. As feições, cor do cabelo, o jeito gracioso... Não tinha como errar. Pois as memórias inundaram seu pensamento quando ele se encontrou com o primeiro, Nero.

Num aperto de mão, em uma singela reunião dos maiores empresários de todos os ramos do mundo, as memórias afloraram. De guerras entre os deuses antigos. Rivalidade e principalmente algo que ele sentia fortemente por seus irmãos divinos: Ódio. Basicamente não era olimpiano, mas diziam que era. Seu mundo era sua fortaleza e nem Zeus ou qualquer um poderia adentrar em seu território e ainda sim, por vezes, aventureiros ousados embrenharam-se. Ele odiava interrupções. Odiava tudo e todos. Poderia ser o deus do ódio, mas deixava isso para a Discórdia, sua filha. Claro que levara quase seis meses para processar toda a informação que lhe vinha em forma de sonhos, pesadelos ou passagens naturais durante o dia a dia. Teve até que tirar férias de sua empresa por causa disso. Porém, após esse período de reclusão. Estava pronto para outra.

E um rei não poderia ser rei, sem ter uma rainha.

Mas ela não lhe reconheceu e ainda por cima lhe atacou ferozmente na região onde seu corpo era mais vulnerável. Ele não deixaria por menos. Ela iria pagar e caro pela insolência de atacar um deus o qual era o principal juiz da humanidade pós-vida bem como governava como ninguém a alma dos mortos. Perséfone até poderia ter algum poder do tipo, mas ele era mais forte. Afinal o mundo era dele, e ela tinha somente uma parcela ínfima do poder de um dos grandes. No passado, até que ela poderia ser amável e casual com ele. E agora, até que ele poderia ter sido bruto e grosso, Mas ela tinha que pagar de alguma forma, e depois sim, ela seria toda sua para os confins da eternidade.

Em seu quarto, ele se arrumava pela noite seguinte ao ocorrido. Um homem bate a sua porta. Ele reclama de serviço de quarto, porém quando escuta aquela voz, percebera que a pessoa que estava ali não era ninguém mais, ninguém menos que o assassino dos assassinos. O homem que se dizia ser o novo deus da morte. Um que matara o antigo líder da seita assassina e virara grão-mestre de uma organização com mais de cinco mil membros, os quais controlavam muito mais. Ele era a nata da nata. E Hades, ou Vincent como era reconhecido naquele mundo humano, sorriu quando abriu a porta. Simpatizava sempre com pessoas que exalavam a morte e a escuridão. Ele teria um lugar privilegiado no novo mundo que surgiria. Um lugar no Tártaro e no mundo dos mortos.

– Park – disse casualmente abraçando o oriental que estava vestido com um terno feito sobre medida. Ricos sempre tinham seus alfaiates pessoais – O que fazes aqui em São Francisco, uma cidade pequena de Santa Catarina?

– Oferecer uma proposta. – sorriu Thanatos – Mas primeiro deixe-me contar uma história.

– Sou todo ouvidos.

O homem que se passava de programador arrastou uma cadeira e sentou-se defronte ao frigobar que havia na suíte do hotel.

– Há alguns dias eu voltei da China – começou ele enquanto o americano certinho de Wall Street continuava a fazer suas coisas – E vi uma coisa interessante, não lá, mas aqui quando eu cheguei.

– O que?

– Sua amada Charlotte beijando outro homem.

Vincent – ou Vince como costumava chamar seus amigos – congelou por alguns instantes. Uma mulher que deu um chute naquela região beijando outro homem? Se ele, o rei do submundo não era digno, quem era? Isso o deixou encabulado. O deixou irritado. Por sua vez, Thanatos via uma aura negra ser emanada do homem o qual ele sabia que era um dos três grandes. E era ele a pessoa que o tinha atacado. Vincent reconheceu imediatamente Park Ji Young como o recipiente do deus dos mortos e o atacou ferozmente. Nessa luta de deuses, a antiga guarda-costas de Park morrera. Ela até que lutou bravamente e feriu Hades, mas ela não teve chance contra o poder divino do deus que controlava a alma das pessoas. Após matá-la, ele retirou sua alma e a armazenou em um recipiente no Tártaro. Era uma excelente lutadora e poderia ser usada mais adiante em algumas de suas maquinações. Thanatos o convenceu que não tinha nada a ver com os deuses, e, portanto obrigatoriamente, deveriam se unir em busca de vingança contra aqueles que retiraram a sua imortalidade bem como as lembranças de vidas passadas, de outros corpos e paixões platônicas.

– Quem?

– Cristiano De Wjier, goleiro da seleção belga de futebol e eleito melhor goleiro da última Libertadores
– Se você pensar como um humano... Você sempre será atraído por um humano. Mesmo que despertem, suas paixões como humanos se ainda existirem, não se conseguirá seguir em frente.

– Concordo.

– Logo – ele se dirigiu a porta bem arrumado – eu matarei a Charlotte e depois irei retirar sua alma. Ela ficará comigo no Tártaro para todo o sempre. Reencarnando nas mulheres as quais eu irei indicar. A alma dela é a de Perséfone, não somente da garota francesa. Mortal e deusa interpelam em seu corpo. Logo puxarei as duas no pós-morte.

– Como fará isso? Um deus como você sujando as mãos dessa forma seria considerado um sacrilégio. – disse Park seguindo Vince através da porta e fechando-a em seguida – Que tal você utilizar uma pessoa da vida da garota para matá-la?

– O próprio Cristiano?

– Não – Thanatos recusou imediatamente – Sou torcedor belga, não quero que mate o goleiro do meu time.

– Então quem?

Era perceptível que Hades havia tomado por completo o corpo de Vincent. Não havia e nunca mais haveria traços do humano que um dia habitara aquele corpo.

– Quem você tem em mente?

– Aquele homem que me impediu de conversar com a minha garota, por isso estou indo para o quarto dele agora...

– O senhor não deveria esperar pela hora da morte? Assim poderia trazer a alma de qualquer mortal para o mundo do Tártaro e oferecer a liberdade em troca de uma simples tarefa: Atacar e humilhar Charlotte Wickery. – Park era inteligente, era muito persuasivo e ainda por cima tinha um trunfo em sua manga. As informações dadas por seu deus. Era por isso que Thanatos adorava aquele corpo. Não precisava intervir, não precisava fazer absolutamente nada, somente observar o que seu grande pupilo fazia.

– A hora morta? Quando isso passou a existir?

– Idade média, Vince - ele sorriu sarcasticamente - Parece que suas memórias ainda não voltaram. A hora morta trata-se do momento em que os portais para outro mundo são abertos e espíritos ficam com uma influência muito maior sobre a terra. Nesse intervalo, das três horas da manhã até às quatro horas, espíritos podem atacar humanos. Fazer com que pessoas vejam vultos e assassinos sejam atormentados. O Cérberus é uma dessas pessoas que costuma ver espíritos e matar eles durante essa hora.

– O cão do inferno domesticado por Hércules reencarnou em um humano? Interessante.

– Mandei o Cérberus fazer uma missão especial. Matar certo loiro que adora apreciar a sua própria beleza. Ele irá consumir a alma de Narciso.

– Então farei a alma do homem conhecido como Adônis seja retirada de seu corpo mortal. Colocarei a alma da garota que era seu guarda-costas com certas modificações. Ela se encarregará do resto.

– Vim somente lhe avisar disso – enquanto Vince seguia corredor acima, Thanatos se dirigiu ao elevador – Eu tenho que ir atrás de uma garota que matou um homem chamado Roger.

– Vá. Deixe comigo Cristiano e Charlotte.

– Ah! – disse enquanto entrava no meio de locomoção do hotel – Vem vindo alguém para lhe ajudar. Dois contra dois é uma luta justa.

“Justa é quando a luta é igual. Cristiano e Charlotte não têm chances contra a minha força e minha inteligência”.

Fora o que pensara o deus do submundo à medida que seguia lentamente para o quarto de Adônis. Ele mudara de ideia tantas vezes como o curso infinito de um rio que desce caudalosamente por uma montanha. Será que ele acreditava nas palavras de Thanatos? Ou era somente um engodo para jogar os deuses uns contra os outros? Pediria por provas? Ele decidiu punir o garoto, uma paixonite antiga de sua antiga rainha por interromper a conversa dele com ela, e puniria ela pela insolência de atacá-lo. Logo, uniria o útil ao agradável. E não poderia atacar Cristiano agora que era um goleiro que estava em evidência no mercado mundial, então restavam somente à bela Char – como era conhecida por seus amigos – e Adônis, o homem que não esperava pelo que viria a acontecer.

Quando seu relógio suíço marcou três horas da noite, ele – sentado na poltrona defronte a cama de Adônis – observou as mudanças no ramo espiritual. Como deus do submundo, ele viu portais abrindo em São Francisco de forma impressionante. Somente as pessoas com almas fortes ou com alguma pendência do outro mundo poderiam ver aquelas fechaduras ao outro mundo. Um mundo de morte e punição. Um mundo cheio de perdições. Um cheio de assassinos cruéis, homens que se diziam anticristos entre outras pessoas. Os nove círculos do inferno haviam se alinhado perfeitamente. Hades sorrira. Gargalhara, O Tártaro estava em seu maior esplendor e com certeza naquele horário poderia haver qualquer invasão do submundo para a terra, se ele assim quisesse.

Adônis acordara incrédulo com a risada de Vincent Carter.

– Você? O que está fazendo em meu quarto?

– Estou simplesmente contemplando a morte do mundo. A morte desse seu mundo e o nascimento de um novo mundo.

– Você... Fingiu ser uma pessoa completamente diferente do que realmente era para a Charlotte! Não vou permitir...

Antes que o garoto continuasse, um soco atingiu o lado direito do seu rosto. E antes que pudesse se recuperar, o homem governante sobre todo o Tártaro o pegou pelo pescoço e o levantou como se fosse um simples boneco. Usara sua força divina. Estava completamente embriagado pelo poder de um deus. O matara com um aperto. Não o deixara respirar. O homem mortal não tinha chance contra um deus. A força era sua marca registrada. A morte uma parceira para todos os lados. O Tártaro era seu domínio, seu mundo. E sua personalidade não era diferente das pessoas que habitavam ao que todos chamavam de “Nove círculos do inferno”.

– Adônis, agora você será meu enviado. Será um duque – disse enquanto punha aquele pobre rapaz em suas costas – Você será um duque da morte. Recrutará pessoas, pois eu não confio em Thanatos. Eu confio em mim mesmo e nas crias que eu faço dessa forma.

Caminhando para um dos grandes portais, ele simplesmente sorriu enquanto pronunciava suas últimas palavras.

– Sua primeira missão é atacar, humilhar e depois, matar Charlotte Wickery e trazer sua alma até minha presença.

E, ao dar quatro horas em ponto, ninguém. Nem mesmo a alma mais forte das pessoas saberia o que ocorrera naquela noite. E na seguinte... E na seguinte...

Capítulo escrito por Vini Ribeiro
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