Quando Dimitri a viu sendo derrubada ao chão como uma boneca de pano,
correu para ajudá-la. Pegou-a no colo, e a depositou nos degraus de uma
escada, que dava acesso a uma das tradicionais mansões do bairro
londrino de Belgravia. Por pouco ele não chegava tarde demais ao local
que havia visto em seus sonhos proféticos. Tentou tirá-la do transe.
Susan abriu os olhos, mas ainda via apenas borrões de alguém tentando
ajudá-la e a escuridão da noite ao fundo. O corpo pesava e a mente
divagava enquanto sua respiração diminuía até quase não ser ouvida.
— Corvo — murmurou fracamente antes de suas pálpebras se fecharem involuntariamente e seu corpo mergulhar em um sono profundo.
Ele
percebeu que não seria tão fácil tirá-la do estado em que estava.
Levou-a para seu apartamento, onde cuidou dela. No outro dia, pela
manhã, o cheiro do chá de frutas vermelhas, enchia o pequeno
apartamento.
O suave cheiro invadiu suas narinas, remexendo algo
dentro dela. Ela abriu os olhos devagar, parte dela ainda resistindo
àquilo e querendo continuar em seu sono. Sua cabeça estava pesada e o
corpo, mole.
Algo se remexeu novamente dentro de si, produzindo um
ruído baixo, mas audível. Percebeu que seu estômago protestava contra
aquele aroma e lhe suplicava por comida. Estava faminta.
Há quanto tempo estou dormindo?,
perguntou-se. Lembrava-se vagamente do que acontecera. Susan se
lembrava de ter pedido ajuda aos cosmos para suas respostas, mas, ao
invés disse, ele lhe mostrara a constelação do corvo antes de lhe enviar
a um local desconhecido. Depois disso, tudo o que lembrava era um
borrão de quando desmaiara. Hécate avisara que o feitiço era perigoso,
porém ela não lhe dera ouvidos.
Caminhou até a porta e a abriu,
preparada para atacar se precisasse. Tudo o que encontrou, para sua
surpresa, foi uma sala, também pequena, com um sofá, uma televisão e um
aparelho de som, de onde saiam as notas de uma das “Bachianas
Brasileiras”. Ninguém estava na sala, apesar de notar que alguém
estivera sentado no sofá para, provavelmente, ler o livro que estava ali
jogado.
Ouviu passos vindos da cozinha e se encaminhou para lá.
Invocou um de seus servos, um lobo gigante fantasma, e foi até lá com
uma das mãos tateando a parede.
As porcelanas voaram pela cozinha,
enquanto Dimitri era arremessado para trás por um pálido lobo gigante.
Seu corpo foi ao chão com as patas do animal em cima do seu peito. Não
havia tempo para titubear ou deliberar sobre uma reação. Trouxe os
braços para junto do corpo e empurrou o animal para longe. Ao mesmo
tempo, lançou um feixe de luz, que ao atingi-lo o fez desaparecer como
uma sombra. Levantou-se com o corpo doendo, dando de cara com sua
hospede um pouco cega pela luz.
Susan, por sua vez, levitou todas
as facas que encontrou na cozinha do homem e as direcionou para este,
cercando-o completamente com seu pequeno exército de armas cortantes.
— Quem é você? — Seu corpo ainda estava fraco, mas a voz continuava firme. — E por que me trouxe até este apartamento?
Dimitri enrijeceu o corpo e engoliu seco antes de dizer:
—
Eu esperava um pouco mais de gratidão. Se não fosse por mim você
estaria jogada em alguma sarjeta suja. — Analisou um pouco a moça, ela
aparentava estar mais assustada do que ele. Mudou do inicial tom
sarcástico para um mais compreensivo ao continuar. — Você realmente não
me reconhece, não é? Vamos lá, eu não mudei tanto...
Susan se
esforçou para lembrar, porém o que acontecera no momento em que
desmaiara ainda permanecia um mistério. Talvez fosse porque já estava
fraca naquele momento. Contudo, lembrava-se da constelação.
— O corvo... Apolo?
Quando
terminou de pronunciar o nome do deus, sua cabeça girou, o corpo
amoleceu e, por um momento, a visão enevoou. Sentiu como se fosse cair
novamente, então se apoiou na parede, perdendo completamente o controle
sobre as facas que caíram imóveis no chão. Ele correu para apoiá-la.
Sentou-a numa das cadeiras da mesa da cozinha.
— Por que me salvou? — Indagou confusa.
—
Eu tive uma visão. Estava procurando Artêmis, minha irmã — disse ele
enquanto pegava um copo e o enchia com água. — Porém você apareceu, da
mesma maneira que estava no local em que te encontrei. Você deve ser
ela.
Ele entregou o copo para ela. Ela se sentou e pegou o copo, mas não o bebeu.
—
Você está enganado... Sou apenas Hécate — disse, duvidando de si mesma.
Vira tantas coisas nos últimos dias que já não tinha mais certeza de
nada, nem mesmo de quem ela era.
— Enganado? Mas... a visão? —
Dimitri estava confuso, ele estava procurando Artêmis, mas se ela não
era, por que ela havia aparecido? — Visões podem ter várias
interpretações, mas as minhas costumam ser claras e diretas. Isso deve
ser resultado de anos vivendo em corpos mortais... — Ele se perdeu um
pouco nos seus pensamentos, mas logo recobrou os sentidos. — E como pude
deixar escapar a mais simples cortesia mortal e não me apresentar. Meu
nome é Dimitri... Dimitri Arkadyevich Kalagin, para ser mais exato, ao
seu dispor.
— Susan... — Hesitou. Ainda não confiava completamente
naquele rapaz, mas ele havia sido educado, se apresentara e, segundo as
regras, deveria fazer a mesma coisa. — Chamo-me Susan Blair. Obrigada
por ter me salvo naquele dia, mas preciso ir agora.
Susan se
levantou só para concluir que ainda não estava apta para andar. A cabeça
girou novamente e ela perdeu o equilíbrio, sendo obrigada a se apoiar
na mesa para não cair.
— Vamos com calma aí? — Brincou ele, se
aproximando para caso ela perdesse o equilíbrio novamente. — O que de
tão urgente você tem para estar tão ansiosa. No Brasil minha avó
perguntava se eu tinha de tirar meu pai da forca quando ficava desse
jeito. Espero que esse não seja o seu caso.
— Meu pai está morto —
respondeu sem qualquer emoção. Àquela altura, parecia que seus pais
haviam morrido há uma eternidade, apesar de terem partido há apenas três
meses. Estranhamente, percebeu que não sentia falta deles, eles nunca
passaram muito tempo com ela. Algo dentro dela estava começando a mudar,
notou, e pouco se importou. — Apenas preciso ir.
— Eu não posso
deixar você ir sozinha. Você acabou de se recuperar. — Ele estava
preocupado, ela poderia não ser sua irmã, mas pela visão ela deveria ser
a chave para encontrá-la. — Veja bem, você não é a única. Os outros
deuses estão acordando, precisamos nos unir.
Ela o olhou como se ele tivesse lhe contado alguma piada.
— Vocês nunca gostaram de se unir. Estão sempre mais preocupados em se odiarem e brigarem entre si. Por que se uniriam agora?
Ele
engoliu seco, ela havia o colocado contra a parede. Ou ele a convencia a
se juntar a ele, ou perdia a chave para achar Artêmis.
— É uma
questão de sobrevivência, nossa e do mundo como conhecemos. Tempos
difíceis estão vindo. — Ele fez uma pausa para raciocinar, e continuou. —
Você pode não se importar com os outros ou o mundo, mas eu posso te
ajudar a achar o que quer que esteja procurando.
— Tempo de destruição
se aproxima — corrigiu ela. — Eu me importo, vocês é que parecem que
não. A briga de vocês pelo poder é mais importante do que a humanidade
ou o mundo. Contanto que tenham seus poderes, o mundo e os mortais são
apenas coisas insignificantes. Acham que se forem destruídos de novo,
basta criar um mundo novo. — Sua voz estava visivelmente alterada e seus
olhos transbordavam de raiva enquanto todos os objetos da cozinha
começavam a flutuar e nadar pelo ar. — Eu não quero um mundo novo, quero
este. Não estou interessada na briga de vocês, porque eu sei que vão
brigar, sempre brigaram. Meu único interesse é impedir que vocês o destruam.
—
Então se junte a mim na minha viagem até o Brasil. Os deuses se
reunirão lá. Se você quer impedi-los de destruir o mundo, essa é a sua
chance.
Ela o fitou, considerando a proposta. Não queria tomar
partido na briga deles. Sabia que brigariam, sempre brigaram, não seria
diferente agora. Por outro lado, ir a tal reunião lhe daria a
oportunidade de colher informações e saber quem são e o que querem.
Conhecê-los poderia lhe dar alguma vantagem para impedir sua visão de
acontecer.
— Me juntarei — disse por fim, os objetos flutuantes
voltaram aos seus respectivos lugares. — Irei à reunião com você para...
Observar. Encontre-me no aeroporto no final da tarde e embarcaremos no
primeiro voo. — Levantou-se e caminhou até a porta de saída, mas parou
antes de atravessá-la. — Quanto a sua irmã, eu não faço a menor ideia de
onde esteja. — Então cruzou a porta da cozinha, pegou seu sobretudo e
foi embora.
Primavera... Dmitri se sentia ótimo. Voltar ao Brasil
havia sido a melhor coisa que ele poderia ter feito. Fugia do Outono no
Hemisfério Norte. As folhas caindo e os céus, a maior parte do tempo,
nublados era algo extremamente agonizante. Ele amava aquelas calçadas
portuguesas, ladeadas por árvores e banhadas pelo sol tropical, tudo
tipicamente brasileiro. Susan parecia não partilhar do mesmo entusiasmo,
já que permaneceu durante todo o trajeto até o hotel com os vidros
escuros do carro fechados, além de seus óculos de sol e chapéu
tipicamente ingleses.
Durante as quase doze horas de voo, entre o
Aeroporto de Londres e o Aeroporto de Florianópolis, por várias vezes
Dimitri tentou iniciar algum diálogo com ela, entretanto sem nenhum
sucesso. Suas perguntas e sugestões sempre voltavam com alguma resposta
pronta e que não dava nenhuma abertura para um envolvimento maior.
Apesar disso ele compreendia a insegurança dela. Não era simples acordar
com milênios de memórias, frustrações e outras vidas da noite para o
dia, e só Deus saberia o que ela havia passado nesta reencarnação.
Ele
colocou uma das mãos no bolso, para verificar se o cartão estava lá.
Sentiu o coração gelar ao tocar o papel amassado. Torcera para que
aquilo fosse apenas sua imaginação, mas não era. Ao sair do aeroporto o
motorista discretamente o havia entregado. Nele havia escrito um
endereço e as palavras “Não perca o foco, ou esqueça o acordo”, no final
estava assinado com apenas um “X”.
O carro parou em frente ao
Hotel, de onde se podiam ver as ondas quebrando na praia logo à frente.
Susan perguntou polidamente se ele possuía dinheiro para pagar pela
estadia, ele garantiu que havia o suficiente para todas as despesas e
que ela não precisava se preocupar nem um pouco. Separou-se dela com a
condição de que ela tomaria cuidado sem ele. Era estranho, mas Dimitri
tinha quase uma preocupação fraternal.
O quarto era espaçoso e
parecia pintado de dourado pela luz do sol que entrava pelas imensas
janelas. Dentro do guarda-roupa havia um conjunto de calça social da cor
caqui, uma camisa azul-clara e um sapato esporte-chique, juntamente com
um terno e um bilhete onde estava escrito “Faça bom proveito”. Tomou um
demorado banho na banheira do quarto, e depois saiu para caminhar pela
avenida da praia.
O dia estava perfeito, as palmeiras balançavam
com o vento e os raios solares enchiam o corpo de Dimitri de vida. Uma
única coisa faltava: doces, seu vício de infância. Por isso entrou em um
pequeno restaurante para matar a saudade de alguns doces tradicionais,
que em nenhum lugar são tão bons quanto no Brasil.
O pequeno
restaurante estava praticamente vazio, não era horário de movimento e
Kate achou que seria maravilhoso beber um chá para aliviar a mente. Ela
se sentou em uma das cadeiras localizada perto das imensas janelas do
estabelecimento, pediu um chá de mate gelado e aproveitou o calor do sol
para esvaziar os pensamentos. Estava cansada, cada dia que passava as
lembranças retornavam mais e mais, quase a sufocando e deixando-a louca.
Havia encontrado Nero há alguns dias, e ter o marido tão perto... Não
sabia o que fazer com isso, não sabia o que fazer com a própria vida.
Ela suspirou e se recostou na cadeira, bebendo um gole do chá.
Dimitri
sentou-se em uma das mesas, e esperou um garçom aparecer. O salão
estava praticamente vazio, havia apenas ele, um casal de namorados
algumas mesas à direita, um grupo de amigos à esquerda, mas uma pessoa o
chamou a atenção. Havia uma moça sentada perto de uma das janelas que
davam para o jardim. Ela não o havia notado, na verdade parecia não
notar ninguém ao seu redor, estava mergulhada inteiramente em seus
problemas. Porém ele não conseguia tirar os olhos dela, algo nela o
fascinava, sentia uma ligação inexplicável. Ele sabia que eles eram
iguais.
Kate sentiu uma onda de calor percorrer o corpo. Todos os
pelos do corpo se arrepiaram e ela virou o rosto. Olhou para o lado e um
par de olhos verde-dourados a encarava.
— Você está mais bonita a cada reencarnação... Afitrite — disse ele sentando-se a mesa
— Eu conheço você? — Olhou-o cautelosamente. — Não consigo me lembrar direito....
— Perdoe meu atrevimento, não queria te assustar. Mas você me conhece sim, estava lá quando eu nasci!
— Apolo? — Examinou o rosto do homem com mais cuidado. Reconhecia aqueles olhos e aquele sorriso. Nunca poderia esquecer.
— Pelos deuses! É mesmo você?
—
Mas é claro, posso estar mudado fisicamente, e um pouco
psicologicamente, mas minha essência é a mesma. Só essas lembranças
todas é que estão me matando, não tenho uma noite de sono decente há uns
dois meses.
Kate tocou o rosto dele, lembrava vagamente daquele rosto, mas tinha certeza de que não havia mudado tanto.
—
Continua sendo tão lindo quando antes, Apolo. — Ela suspirou, estava
cansada também. — Eu entendo. As lembranças também estão me consumindo.
Faz quanto tempo que você sabe?
— Quase um mês, estava na Sardenha
quando descobri. Cheguei, há alguns dias, vindo de Londres. Estava
procurando minha irmã, porém acabei encontrando Hécate. Eu a convenci a
vir para o Brasil, assim como os outros deuses estão fazendo.
— Eu descobri há pouco mais de um mês. Algo está acontecendo e eu não sei o que é.
—
Nem sempre quando tenho visões elas são do passado. Algumas mostram o
futuro, mas essas sempre são muito confusas e nebulosas. Eu te vi em uma
delas. — Ele fez uma pausa, suas pupilas dilataram e então continuou. —
Vi este momento, mas só agora ela faz sentido. Anos de vida como humano
acabaram com a minha habilidade de interpretação.
— Não foi
somente você que perdeu. Eu... Tenho dificuldades, não consigo mais
sentir meu poder e isso é terrível. Como se não bastasse ainda tive o
desprazer de encontrar com meu marido... Não, com Poseidon. Tenho
vislumbres do passado, mas tudo está tão diferente, eu estou tão
diferente.
— Meu tio... Melhor Poseidon, você já o encontrou, então. Ele está na cidade?
Kate cruzou os braços, apertando-os contra o corpo. Sentiu desconforto, insegurança.
— Sim, ele... Está aqui. Vai passar um tempo no Brasil. Ele é Nero Pagani, o oceanógrafo famoso.
—
Nero Pagani?! Ele tem uma base de estudo na Sardenha. Devo ter cruzado
com ele uma ou duas vezes. Então é por isso que nunca gostei muito
dele... Tudo bem que ele é meu tio, mas as feridas do que aconteceu em
Tróia não se cicatrizaram por completo. — Ele se ajeitou na cadeira. —
Perdão, não deveria estar falando sobre isso com você... Pelos deuses!
Maldita mania de pedir perdão em todo momento!
Ele percebeu que havia se exaltado um pouco, chamou o garçom e pediu um pedaço de torta de limão.
—
Tudo bem, eu fui obrigada a me casar com ele, lembra-se? — Ela abriu um
sorriso. — Fico muito feliz de poder encontrá-lo, é tão bom ver um
rosto amigo.
Kate bebericou o chá.
— Eu me pergunto se agora
que sabemos quem somos, devemos voltar as nossas vidas ao ponto de onde
paramos? Graças a Zeus não era casado, isso só complicaria mais para
mim.
Ela se moveu na cadeira, desconfortável.
— Eu não quero
ter nada com aquele homem. Depois de tudo que ele fez... Eu não quero e
não vou me envolver com ele. Quero ser feliz, entende?
— Sim, eu
entendo. Não há nada que eu queira mais que isso. Quando era um deus o
amor sempre me fugiu pelas mãos, isso se repetiu nas minhas vidas
passadas. Mesmo que encontrasse alguém, vivia feliz por um tempo, e
então ela era tirada de mim. Cansei de ser um coração solitário.
O garçom veio com o pedaço de torta.
—
Todos nós cansamos. Não quero mais ver Poseidon trocando-me por
qualquer rabo de saia que apareça. Estou feliz sozinha. — Ela pediu ao
garçom uma torta também, além de outra xícara de chá gelado. — De
qualquer forma, Nero tem mulheres muito melhores para pensar em mim, o
que é um alívio.
Ele riu.
— Acho melhor mudarmos um pouco de
assunto, esse é tão amargo que vai estragar o sabor da torta. Então, o
que você faz da sua vida?
— Claro — concordou ela. — Estou cursando Biologia Marinha, moro em um veleiro e trabalho. E você?
—
Me formei como pianista, mas não tenho um emprego fixo. Preferi viajar
por aí tocando em lugares como esse que estamos. Meus pais ficaram
loucos. Mas vejo que não mudamos muito do que éramos.
— Talvez. —
Kate procurou a mochila para pegar a carteira. — Eu tenho aula na
faculdade agora, posso pegar seu telefone? Assim poderemos marcar um
horário melhor para conversar.
— Sim, sim. Vamos marcar. Tenho alguns assuntos para resolver, mas depois estarei livre.
— Certo. — Ela tirou uma nota de 20 reais e deixou na mesa. — Foi ótimo vê-lo, Apolo.
Katerina sorriu para ele e depois virou as coisas e foi embora.
Capítulo escrito por Rafael Burguer, Camille Machado e Thayane Witte.
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