A casa de Calyoth ficava afastada de toda a cidade, no alto da colina
após as casas de palafita, cujo lado para o mar era íngreme e rochoso e
por onde se poderia subir a pé era cercado por altos muros protegidos
por sentinelas e com acesso restrito. A única forma de chegar à casa sem
ser pega era usando sua passagem secreta, um túnel que havia entre as
rochas no nível do mar, ele a levaria até o topo da colina.
O
maior problema do túnel era seu acesso, só era possível chegar até ele
pelo mar, usando um bote, e ela não tinha tempo de pegar o seu, além de
que facilmente chamaria a atenção dos guardas. Nadar por aqueles lados
poderia ser perigoso, as fortes ondas poderiam arremessá-la contra as
pedras, mas aquela era sua única alternativa. Então ela desceu até a
praia e se jogou ao mar. Para sua sorte, naquele dia as águas estavam
calmas.
Cinco minutos nadando foi o que precisou para chegar até a
caverna e então o túnel. Subiu-o o mais rápido que conseguiu, fechou o
alçapão da entrada e empurrou algumas folhas para escondê-lo, então
correu para casa. O alçapão ficava entre várias árvores, dentro de uma
pequena floresta, e embaixo de muitas folhas que tinha por todo o chão,
era difícil pensar que alguém iria até ali, mas ela preferia se prevenir
e camuflá-lo.
– Minha nossa, senhora, você está toda molhada! – flagrou uma das empregadas.
–
Que susto, Neliel! – por um momento, Calyoth quase enfartou com o susto
de ser descoberta, mas quando se virou para ver quem a flagrara, viu
que era apenas Neliel, a jovem empregada que sempre lhe ajudava em suas
fugas. Apesar das palavras de surpresa, Neliel continuava com a mesma
falta de emoção nos olhos e em suas palavras que ela já conhecia bem. -
Preciso da sua ajuda para chegar até meu quarto sem que Amanda me veja.
–
Claro, te ajudarei, mas antes precisamos dar um jeito nestes sapados
imundos – Neliel apontou para as botas de couro cheias de lama que sua
senhora usava. – É melhor deixar as botas aqui para eu lavar mais tarde.
Ela
anuiu, retirando as botas. Depois Neliel a guiou até o quarto sem
ninguém a ver, passando por vários cômodos vazios. Amanda parecia
ocupada com alguma coisa pessoal enquanto o resto dos empregados deveria
estar cuidando de seus afazeres, de modo que não foi difícil chegar ao
quarto. Ao chegar, elas entraram e Calyoth trancou a porta.
– Me ajude, preciso parecer que estava tomando banho, então prepare um banho improvisado, por favor.
– Senhora, você vai entrar nesta água gelada? – perguntou incrédula.
– E eu tenho alguma alternativa?
Neliel não respondeu à pergunta, ela não precisava de uma resposta, aquela era
a única opção dela para explicar o cabelo molhado. Ela ainda precisava
tomar banho para tirar o cheio da água do mar e a tintura de seu cabelo,
não seria bom para ela se a vissem andando por ai com cabelos
castanhos.
Enquanto a criada preparava um banho improvisado, a
jovem procurou um lugar para esconder a pequena mulher que trouxera
consigo. Depois de olhar por todo o quarto, ela decidiu deixá-la em sua
estante, para que se escondesse atrás dos livros.
– Fique ai por enquanto, daqui a pouco eu volto. Se te encontrarem aqui, eu também estarei muito encrencada – sussurrou.
O
ser obedeceu e ela foi para seu banho. Neliel lavou seus cabelos para
tirar toda a tintura enquanto ela esfregou o corpo para tirar o cheiro
de sal da água do mar, ao final do banho, a água da banheira estava
levemente amarronzada devido ao produto do cabelo. Ela saiu da banheira
rapidamente, secou-se e vestiu um roupão quentinho.
– Obrigada.
– Chamarei alguém para jogar essa água fora.
Ela
recolheu as roupas sujas e andou até a porta para sair. Quando Neliel
abriu a porta do quarto, ouviram fortes batidas na porta da frente da
casa. Ela olhou com repreensão para Calyoth.
– O que aprontou dessa vez?
–
Nada... Apenas houve uma confusão no Mercado. Heitor parece estar
desesperado atrás de alguns insetos, espero que jamais encontre –
desdenhou.
Neliel a fitou desconfiada por algum tempo, depois foi
embora e desceu, deixando a jovem e o ser sozinhos no quarto. Ela
aproveitou para vestir alguma roupa.
– Estamos sozinhas agora, você pode parar de se esconder.
A pequena mulher saiu de trás dos livros e se sentou na beirada da prateleira, com as pernas balançando no ar.
– Eu me chamo Calyoth, mas ainda não sei seu nome.
– Freesia... Freesia Darkwood – ela olhou todo o quarto com atenção, era maior do que qualquer lugar que ela já estivera.
–
Então, Freesia, eu preciso ir lá embaixo ver o que está acontecendo,
mas volto logo. – disse com o rosto perto da pequena mulher boba com o
tamanho daquele lugar.
Freesia anuiu.
Calyoth desceu até o
andar debaixo e depois caminhou até a porta de casa. Para sua surpresa,
era Heitor quem estava em sua porta.
– O que lhe traz em minha humilde e isolada pris... Residência?
– Eu vou deixar vocês a sós – disse Neliel retirando-se da sala.
– Alguns insetos armaram uma confusão no Mercado...
– E o que eu tenho a ver com isso? – interrompeu.
– Você teria alguma informação que poderia dar ao caso para evitar confusões futuras?
– Não – respondeu, secamente.
Ele
empurrou a porta, escancarando-a, e forçou uma entrada na casa. Calyoth
nada fez para impedi-lo, limitou-se a observá-lo, de pé, próxima a
entrada enquanto ele dava alguns passos adentro empenhado em sua busca
por indícios. Contudo, o que ele viu foram as atividades rotineiras dos
empregados que arrumavam as coisas como se ele não estivesse ali.
– Nada parece estar fora do lugar... – observou ele, desapontado.
–
Eu te disse, não tenho informação nenhuma que possa ajudá-lo. O que
acontece na cidade não chega até aqui, não foi por isso que nos
aprisionaram nesta colina?
Ele não respondeu àquela pergunta,
continuou caminhando pela casa e vasculhando. Após poucos minutos,
virou-se e caminhou até Calyoth.
– Seus cabelos estão molhados... – ele constatou, segurando algumas mexas do cabelo dela – Andou nadando, Princesa?
– Não. Eles estão molhados porque acabei de sair do banho.
Então se aproximou, colocando o nariz entre os cabelos dela, e cheirou-o. Ela deu um passo para trás, afastando-se dele.
– O inebriante perfume da dama da noite.
Ela sorriu.
– Como disse, estava em meu banho.
– Um dos guardas viu alguém suspeito se jogar ao mar, perto dos rochedos, e nadar. Se tiver alguma informação, avise-me.
– Avisarei.
Ela
estava farta daquela conversa, queria que ele fosse embora logo, pois
quanto mais olhava para o rosto dele, mais nojo sentia. Ele caminhou
para fora, contudo, antes de sair, ele parou, deixando-a apreensiva.
–
Antes que eu me esqueça – voltou ele a falar enquanto se virava para
ela, ele sorria como quem tivesse lembrado um detalhe importante que por
um momento passara a despercebido -, o tempo passa e você está cada dia
mais encantadora, Caly – observou. Ele levantou a mão em direção ao
rosto dela conforme falava, mas foi surpreendido por um forte tapa que o
impediu de prosseguir com o que intencionava fazer. Ela o fuzilou com o
olhar.
– Para você é apenas Calyoth, ou princesa – seu tom de voz soava áspero, ela o odiava mais do que ao novo rei ou à Amanda.
Ele a agarrou pelos braços, apertando-os, e sussurrou.
– Seus olhos não são lilases? Então por que eles estão verdes?
Por
um momento ela havia se esquecido dos olhos, nunca os tivera daquela
cor. Como ela poderia ter esquecido? Não importava naquele momento, o
melhor era disfarçar e, em um piscar, eles voltaram à cor original,
lilases como os de seu pai.
– É só impressão sua... – disfarçou.
Ela
rezou mentalmente para que ele não percebesse e realmente achasse que
foi apenas uma impressão, entretanto, ele apenas ficou em silêncio
fitando-a e ponderando se o que ela dissera era ou não verdade. Talvez
tivesse sido apenas uma impressão causada pela luz, ou talvez...
– Pode me soltar agora, por favor? – disse ela cortando o silêncio e o pensamento dele.
–
Caly, Caly... Pobre Princesa, tendo que mentir para salvar a pele. Você
pode vir comigo e estará livre desta prisão que mora e das mentiras que
é obrigada a dizer – ele soltou um dos braços de Calyoth e elevou a mão
até o rosto dela, acariciando-o. – Eu posso te dar todo o luxo o qual
estava acostumada, você poderá voltar a andar pela cidade e, é claro,
será tratada como merece ser, uma princesa. Você não precisa continuar
ligada e ser tratada como aquela estirpe ao qual chama de povo – ele
parou, lembrando-se de como vivem agora -, elfos... – desdenhou, depois
prosseguiu - Você deve ser tratada como uma humana, eu posso ajudar
nisso.
– E me tornar sua prisioneira? Prefiro morrer.
Os
olhos negros de Heitor fitavam os lilases de Calyoth, era como uma
guerra pelo olhar, a qual ela não se sentia nem um pouco intimidada. Ela
via a fúria crescer nos olhos dele, da mesma forma como crescia nos
dela. Mas nenhum dos dois ousava dizer algo ou abaixar o olhar, por
algum tempo eles ficaram ali, parados, encarando-se.
– Não quer ser bem tratada por todos? – foi ele quem quebrou o silêncio dessa vez.
–
E abandonar meu povo para isso? Não, obrigada. Eu sou a princesa deles e
meu dever é para com eles foi determinado no dia do meu nascimento, eu
não os trocarei por desejos egoístas – havia orgulho em suas palavras.
– Por que prefere continuar a viver como eles se você pode mudar de lado e ser livre? Eu não te entendo.
–
Você jamais entenderá meus motivos, não passa de um homem arrogante e
egoísta – uma sensação de repugnância espalhou por todo seu corpo e a
fez querer vomitar, mas ela se conteve. – De forma que você entenda,
posso te dizer que um rei jamais abandona seu povo – ela repetiu as
mesmas palavras que seu pai lhe dissera quando ainda era uma criança,
antes dele partir para a guerra e morrer no campo de batalha. Naquela
época ela não entendia o que essas palavras significavam e por algum
tempo ela culpou seu povo pela morte de seu pai, mas com a maturidade
que apenas o tempo pode dar, ela entendeu o que ele quis dizer naquele
dia. O que seria de um rei sem seu povo? Ou um povo sem um rei para
guiá-los? Foi por causa da perda de seu líder que o exército se
desmantelou e permitiu o avanço do exército humano até a capital élfica.
–
Atrapalho em alguma coisa? – perguntou Amanda ao entrar na sala e se
deparar com os dois naquele estado, Heitor segurava um dos braços de
Calyoth com uma mão enquanto os dois se encaravam, com olhos
transbordando em raiva.
Ele a soltou e gargalhou da resposta dela.
–
As palavras que o matou. Cuidado, princesa, o seu desejo pode acabar se
realizando, seu vigésimo aniversário é daqui alguns dias – alertou.
Então,
para a alegria dela, ele abriu a porta e saiu, ainda gargalhando do que
ouvira. Por um lado, era um alívio ele ter ido embora, mas por outro
Amanda estava bem atrás dela. A governanta de sua casa, que atendia pelo
nome Amanda Chandler, era diferente de Heitor, ela não gostava de
nenhum dos dois, mas por Heitor o que ela realmente sentia era nojo, uma
repulsa muito grande quando estava perto dele, quando ele tocava sua
pele mesmo que a força ou quando olhava para a cara dele. Ela sentia
vontade de vomitar nessas horas.
Porém com Amanda era diferente,
não importava quantas vezes ela olhasse para a cara dela, ela
simplesmente a achava muito estranha e um tanto assustadora, aqueles
olhos azuis tão claros, que ela poderia jurar que eram quase brancos,
metia-a medo. Um calafrio subia por sua espinha quando a olhava como um
aviso de perigo, era uma sensação que perdurava por quatorze anos.
Daquela
vez foi não diferente, quando Calyoth se virou para voltar ao seu
quarto e passou por Amanda, a mesma estranha sensação percorreu seu
corpo durante o breve momento em que ela fitou aqueles estranhos olhos
azuis. Talvez fosse seu instinto a avisando do perigo ou algum estranho
poder de Amanda, ela não sabia dizer, sabia apenas que era melhor ficar
longe dela e foi o que fez, subiu direto para seu quarto.
Quando
entrou no quarto, encontrou sua irmã, Aglaur, correndo e resmungando
alguma coisa em sua direção. Ela se escondeu atrás de Calyoth e tremia
de medo, estava assustada com alguma coisa.
– O que aconteceu, Aglaur? – indagou tentando entender o que estava acontecendo.
– O-o que é aquela co-coisa? – gaguejou, assustada.
– Que coisa?
– Eu não sou uma coisa – protestou Freesia ofendida.
Calyoth
fez uma rápida busca pelo quarto procurando por Freesia. Ela e a irmã
estavam de costas para a porta, na lateral direita do quarto. Ao seu
lado direito estava um enorme baú de roupas; de frente para o baú estava
a sua cama, com duas pequenas mesinhas de cabeceira, uma de cada lado, e
um baú menor em frente a cama; ao lado desta, duas divisórias de
madeira separavam um pequeno quadrado no canto de seu quarto, onde se
encontrava a banheira para seu banho.
Ao seu lado esquerdo havia
sua estante de livros, que começava ao lado de uma porta e terminava ao
lado da porta para a varanda, a estante tinha a forma em L; ao lado da
porta da varanda estava sua escrivaninha, onde ela escrevia cartas que
nunca mandava. A sua frente, estava a lareira, no centro da parede, a
qual esquentava o quarto durante as noites frias, e um sofá de madeira
em frente à lareira.
Apesar de olhar para todos os móveis, Freesia
não estava em nenhum deles, foi preciso Aglaur apontar para ela para
Calyoth encontrá-la. Ela estava em pé, no chão, na frente das duas.
Freesia também estava com uma cara de zangada e suas asas negras
mexiam-se freneticamente, como se ela estivesse tentando voar.
–
Eu também gostaria de saber o que ela é – disse Calyoth. Ela pegou
Freesia e a colocou sentada na palma de sua mão, alguns centímetros
distantes de seu rosto. – O que é você?
De braços e
pernas cruzadas, Freesia jogou a cabeça para o lado e empinou o nariz.
Devido a tal comportamento, Calyoth a segurou pelo vestido e então falou
irritada.
– Posso te entregar a Heitor se preferir.
– Àquele humano fedorento não – resmungou Freesia debatendo-se no ar. – Aquele humano fedorento rasgou minhas asas.
– Coitadinha.
– Então, vai falar? – perguntou Calyoth.
Freesia fechou a cara e a encarou por longos minutos antes de desistir e falar.
–
Tá, você venceu – disse Freesia de cara feia, a muito contragosto ela
prosseguiu. – Eu sou uma fae. Agora não me entregue àquele humano
fedorento.
– Fae? – perguntaram-se as duas em uníssono.
– Humanos... – pensou em voz alta.
– O que é uma fae? – perguntou confusa.
Aglaur aproximou a ponta de seu dedo indicador para cutucar Freesia, que a mordeu no mesmo instante.
– Ai, ela morde – choramingou retirando o dedo.
– É, eu sei... – respondeu Calyoth meio aérea.
– Essa coisa é perigosa, irmã.
– Eu não sou uma coisa – rosnou Freesia.
– E nós não somos humanas – retrucou Aglaur. – Você ainda não respondeu a minha pergunta, o que é uma fae?
– Você não sabe? – ela estava incrédula com aquela pergunta.
– Não...
–
Posso explicar, mas gostaria que me soltassem primeiro. Vocês que são
grandes podem não achar, mas para alguém do meu tamanho uma queda desta
altura não seria nada agradável – ela olhou desconfortável para o chão, a
altura vista sob seu ponto de vista era grande e uma queda poderia lhe
deixar, no mínimo, toda quebrada.
Calyoth a colocou em cima de sua cama e sentou no chão, ao lado de sua irmã.
–
Muito obrigada, está bem melhor agora – suspirou aliviada. – Então, Fae
é o termo que os primeiros humanos usaram para classificar seres
mágicos de outro mundo. Talvez os primeiros de nós tenham vindo de outro
mundo, mas eu nasci neste mundo e apenas este que eu conheço. Há
diversas raças, eu pertenço às fadas.
– Então você é uma fadinha? – perguntou Aglaur.
Freesia assentiu.
– Fadinha, o que estava fazendo no mercado hoje e por que você e as suas amiguinhas me atacaram?
–
Estávamos destruindo tudo e causando prejuízo aos humanos – respondeu
Freesia com ligeira empolgação em seu tom de voz, ela parecia orgulhosa
de si mesma. – Como no nosso atual estado não podemos usar magia porque
aquele humano fedorento extraiu todo nosso poder mágico e queria rasgar
nossas asas para não fugirmos, quebrar tudo e assustar as pessoas eram
as únicas coisas que nós poderíamos fazer para revidar – após terminar
de explicar a situação, ela elevou as mãos à boca ao perceber que não
deveria ter dito aquela última parte.
– Ora, então quer dizer que
você não tem poder nenhum e só pode morder os outros, já que nem voar
pode – Calyoth estampou um sorriso maldoso em seu rosto antes de
prosseguir. – Você ainda não me respondeu por que me atacou?
– Que coisa feia! Não deveria atacar as pessoas assim, fadinha – advertiu Aglaur.
Freesia fechou os olhos, franziu as sobrancelhas e cerrou os punhos antes de explodir em raiva.
–
A culpa é toda de vocês humanos! Se vocês não nos caçassem para roubar
nossa magia e usar em seus desejos sórdidos, nada disso teria acontecido
– gritou.
As irmãs se entreolharam, Aglaur não entendia o
desespero nos olhos da irmã, mas sabia reconhecer quando ela estava
desesperada, e aqueles olhos lilases a provavam isso. Ela assistiu
confusa à irmã tampar a boca da pequena fada com os dedos.
– Fique quieta – ordenou Calyoth a Freesia. - Quer ser descoberta por acaso?
Ela
não respondeu, apenas se encolheu na cama, não queria ser levada e
aprisionada em uma gaiola outra vez, tampouco queria ver o rosto barbudo
de Heitor. Por mais que estivesse um pouco aflita sobre qual seria seu
destino com as duas irmãs, ela sabia que ali era melhor do viver presa e
servir como alimento para a ganância humana. Se as duas jovens
quisessem sua magia de fada ou entregá-la, sabia que já o teriam feito.
– Você deve ter algum problema de visão.
– Não somos humanas, já disse – replicou Aglaur.
– Somos Elfas – acrescentou Calyoth.
A
fada corou, até então ela não tinha reparado. Humanos e elfos são
fisicamente bem parecidos, porém os elfos são mais baixos e possui
orelhas pontudas. Talvez fosse por causa dos cabelos compridos das duas
que lhes tampava as orelhas ou porque ela realmente não se preocupou em
observar esses detalhes.
– Mas elfos estão em...
– Extinção?
Freesia
não respondeu, apenas a fitou, havia tristeza misturada a ódio nos
olhos da elfa. Ela entendia seu sofrimento, aquele mesmo sentimento
familiar que sentia ao ver toda sua raça ser massacrada aos poucos e não
poder fazer nada para mudar, era muito doloroso.
– É, nós estamos
– respondeu Calyoth, seca. – Você ainda não me disse exatamente por que
atacou somente a mim. Se fosse por raiva aos humanos, teria atacado as
outras pessoas também, no entanto o foco do ataque fui eu.
–
Humanos normais não conseguem ver as fadas sem que permitíssemos, porém
você conseguiu nos ver, a senhora Elfglow achou estranho e nos mandou
averiguar. Somente outras criaturas faes podem ver as fadas sem precisar
de nossa permissão, como é o caso dos elfos.
– Isso explica porque Andres não conseguiu ver... – pensou alto.
Freesia anuiu.
– Elfos são criaturas mágicas como as fadas.
O
alto barulho do roncar do estômago de Freesia interrompeu a conversa,
Calyoth a fitou para o constrangimento da fadinha, ela estava pálida e
faminta. Em seguida, outro estômago roncou tão alto como o de Freesia.
– Acho que agora foi o meu – disse Aglaur.
O
tempo havia passado e ninguém percebera, o sol havia caído e a lua
subido, as estrelas brilhavam no céu, era noite já, quase na hora do
jantar. A última vez que comeram alguma coisa ainda era manhã, estavam
agora todas com fome.
– Melhor descermos para jantar – disse
Calyoth se levantando -, trarei alguma coisa para você comer, Freesia.
Aglaur, não comente sobre o que viu aqui com ninguém, principalmente
para Amanda.
– Ficarei de boca fechada – respondeu sorridente,
então as duas desceram para jantar enquanto a fada continuou no quarto
esperando.
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